A previsão segundo a OMS é que metade da população mundial estará míope até 2050. Entre uma amostra de universitários chineses 95.5% são míopes e quase 20 % deles apresentaram miopia acima de 6 graus. Dados epidemiológicos ligam as altas miopias (acima de 6 graus) a descolamento de retina, catarata, glaucoma, maculopatias, rutura de coroide, distúrbios circulatórios. Doenças essas, limitantes, o que a torna um problema de saúde pública.
O alerta foi geral e as pesquisas sobre o assunto ganharam foco. Mas porque esse aumento crescente da miopia? O que mudou? Estudos observacionais constataram a mudança de hábitos na população em geral. Houve um caminho natural da rua para ambientes fechados. Os motivos foram diversos. Vão desde a violência nas ruas, assaltos, falta de tempo e até desanimo. Hoje vemos poucos meninos brincando nas ruas de casa, quando muito, eles descem para o play de seus condomínios. Os jogos que estimulam as crianças passaram a ser digitais, o que os levou a passarem a maior parte do tempo dentro de um ambiente fechado; crianças com nível educacional elevadíssivo que passaram a usar o tempo integral em estudos nas escolas. A exigência do trabalho dos pais, em um mercado deveras competitivo, acabou diminuindo ou abolindo o tempo com os guris nos parques. Em suma as mudanças de hábitos geraram mudanças de comportamento, mudanças essas que apontam para a onda miópica mundial.
O que a miopia tem a ver com essa mudança?
As causas ainda são discutidas, até causas alimentares foram abordadas, mas alguns estudos mostraram que na zona rural a incidência da miopia era menor que nos centros urbanos. Pesquisas recentes apontaram ser a vitamina D um fator relacionado ao crescimento do globo ocular, pelo fato da mesma atuar nos receptores de serotonina presente na camada branca dos olhos (a esclera). Mas o que o crescimento do olho tem a ver com a miopia? Existe um tipo de miopia chamada miopia axial (a mais encontrada), causada quando o olho cresce mais que o esperado para idade, portanto se a vitamina D desacelera esse crescimento, nada mais correto que estimularmos nossas crianças brincarem ao ar livre. Houve um consenso entre cientistas que é preciso pelo menos 2 a 3 hrs/dia ao ar livre. Apesar das orientações serem dadas, muitas crianças ainda permaneciam dentro de casa. O empenho dos cientistas fez com que surgisse no mercado o colírio de atropina com diferentes diluições, que veio para somar na causa da desaceleração das miopias axiais. Com a pandemia o in-door tornou-se quase que pleno e muitas famílias esqueciam ou usavam o colírio irregularmente.
Surgiu então o que temos de mais recente nesta guerra contra miopia
As lentes oftálmicas (DIMS) baseadas no princípio do defocus miópico e da visão simultânea. O princípio é baseado no fato que ao corrigirmos a miopia com uma lente única, o grau seria para todas as partes da visão. O fato é que com as lentes tradicionais, estamos corrigindo somente a visão central, ficando a área periférica fora de foco (defocus hipermetropico), pois o globo ocular é oval e não plano, o que resultaria em estimulo natural para o crescimento ocular na procura de ajustar o foco da periferia. Complicado, mas faz sentido diante dos resultados obtidos nas crianças asiáticas.
Hoje o tratamento se faz com duas ou três associações que se complementam: Orientações (tempo de uso dos eletrônico, tempo ao ar livre); farmacológico e/ou lentes no princípio defocus. O uso de uma ou de outra conduta vai depender da sua consulta com oftalmologista.
Com certeza ainda vão surgir outros tratamentos, os trabalhos estão apenas começando.
Digo para todos que acompanham e buscam meu trabalho que estarei analisando e seguindo bem de perto as pesquisas. Por enquanto fico por aqui.
Dra Claudia Maestri
MD PhD em oftalmologia